terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Relatório de Final de Ano

Chegamos a mais um fim de ano com nossas previsões se concretizando: nada de aumento nos juros dos EUA e piora substancial da situação brasileira. E, claro, é importante ressaltar que nunca erramos nossa previsão anual de que todos os analistas vão errar as previsões! Queremos manter para 2015 essa nossa tradicional previsão.

Vale lembrar que os especialistas esperavam no começo do ano um crescimento do PIB do Brasil de quase 2% em 2014 e teremos sorte se crescermos 0,2%, ou 10% do esperado. Além disso, a inflação, que abandonou há tempos a meta (agora só se fala no teto da meta), continua a aumentar.

A situação brasileira é bem complicada e há de se esperar um agravamento até pelo menos meados de 2015; isso se a administração de Joaquim Levy à frente da Fazenda tiver autonomia para fazer o certo (coisa ainda não provada no governo Dilma).

O ano de 2014 terminou de maneira triste para o Brasil. Escândalos de corrupção cada vez maiores e sem punições, inflação subindo, PIB caindo, dólar nas máximas (apesar da atuação do BC), alta nos juros, preços represados, etc. Isso porque o segundo governo Dilma ainda nem começou... Realmente a pior das notícias é que ainda faltam 4 anos para ela sair (com uma boa dose de otimismo, o PT ficaria no governo por mais “apenas” 4 anos; mas aí a dose tem que ser cavalar).

Temos esperança que 2015 será um pouco melhor. Obviamente, o Brasil pagará um preço por uma péssima administração nos últimos anos, mas é melhor pagar esse preço o quanto antes. Assim, se os preços represados forem repassados ao consumidor, veremos um aumento na taxa de inflação, que levará certamente a um aumento na taxa de juros. Isso é um remédio amargo, mas que deve ser tomado.

Com o novo ministro da Fazenda, a contabilidade criativa deve diminuir seu ímpeto e teremos boas possibilidades de um ajuste sério.

Não acreditamos em PIB alto em 2015 e a inflação deve continuar alta. Isso com uma ajudinha do dólar. Ao contrário de todo o mercado, não esperamos um dólar forte para 2015, visto que não acreditamos na possibilidade do FED aumentar a taxa de juros nos EUA em 2015. Isso decerto ajudará o Brasil, assim como preços de combustíveis mais baixos.

Achamos importante falar sobre os EUA e nossas perspectivas para 2015. Uma vez mais, não acreditamos na alta de juros por lá. Aliás, achamos provável uma volta do Quantitative Easing (QE4), seja em 2015 ou no início de 2016.

Não vemos melhora da economia dos EUA e, apesar do dito crescimento de 5% do PIB no terceiro trimestre, o FED decidiu ser “paciente” para elevar as taxas de juros. Ora, se a economia está mesmo pujante como dizem, crescendo 5% a.a., por que manter a taxa de juros em zero?

Na nossa opinião, a economia dos EUA está tão fragilizada que não suportaria juros acima de zero. Eles estão em uma fase de “recuperação” que já dura 6 anos; isso depois de juros zero, QE1, QE2, QE3 e operação twist.

Como vimos falando há anos, o FED não pode subir os juros sem causar o estouro da bolha que ele mesmo criou. Caso os juros subam, os mercados acionários, que já passaram dos 18.000 pontos, de bônus e de residências (o preço médio de imóveis em Manhattan bateu recorde em 2014, passando de US$1,68 milhões) despencarão – o que anulará toda a política de crescimento pelo chamado “efeito riqueza” (quando o preço dos ativos sobe, as pessoas se sentem mais ricas e gastam mais dinheiro, estimulando a economia).

Assim, infelizmente, acreditamos que o FED vai continuar com sua política de juros zero até que os mercados se dêem conta de que tal política não pode acabar nunca sem uma grave crise.

Em 2014 vimos várias metas do FED serem “alcançadas”, sem que os juros subissem: taxa de desemprego abaixo de 6,5%, inflação acima de 2% e o FED continua paciente...

O absurdo dessa taxa de desemprego é notado ao se ver a participação no mercado de trabalho, que caiu para o menor nível desde 1976! Hoje existem mais de 90 milhões de americanos fora do mercado de trabalho. Não conseguimos ver isso como exemplo de uma economia vibrante e em pleno crescimento!

Além disso, o que os números não mostram é a qualidade dos empregos criados – de baixo valor agregado. De acordo com o Departamento de Estatísticas do governo, se um emprego de horário integral é perdido e são criados dois empregos de meio-horário cada, há um ganho líquido de um emprego na economia. Ainda que esses novos empregos de meio-horário tenham um salário total menor que o do emprego de horário integral, que não tenham os mesmos benefícios e que sejam totalmente incapazes de manter uma família, para o mercado, o importante é que foi criado um emprego novo!

Um risco que achamos que poucos estão levando em conta é o da não-recuperação da economia norte-americana e de um aumento no programa de estímulos à economia desse país - muito mais porque poucos acreditam que os EUA ainda estão em crise.

Quando nos dermos conta e virmos que tal recuperação inexiste – o que existe é somente uma alta nos preços dos ativos devido aos programas do FED - e que o próprio FED não tem a menor intenção de parar de imprimir dinheiro, vamos ver uma queda no dólar americano. Tal cenário trará repercussões importantes para a economia mundial que acreditamos não estarem sendo consideradas.

Vimos em 2014 mais programas de estímulos dos Bancos Centrais Europeu, Chinês e Japonês, com os mesmos resultados: alta nos preços dos ativos, queda na moeda e no poder de compra da população.

O risco de uma bolha imobiliária na China aumentou e vários analistas veem como o maior risco à economia global. Muitos deveriam se perguntar se a China está mesmo crescendo 7% ao ano, com o preço do petróleo caindo quase 50% de sua alta esse ano, minério de ferro e outros seguindo o mesmo caminho... Quando a economia da China era menor e ela crescia o mesmo tanto, os preços das commodities explodiam. Como é possível que a economia chinesa agora, muito maior que há alguns anos, possa crescer o mesmo tanto com impacto negativo nas commodities importadas?

A Bolsa japonesa também subiu bastante esse ano (quase compensando a queda no iene), devido a mais estímulos à economia desse país. É incrível que as pessoas continuem cometendo os mesmos erros esperando resultados diferentes. O Japão vive um período tenebroso de baixo crescimento há décadas e nenhum estímulo conseguiu mudar isso. O que eles (todos) precisam são justamente juros mais altos e mais austeridade fiscal.

No mundo todo, os Bancos Centrais veem imprimindo dinheiro e abaixando artificialmente a taxa de juros, esperando fomentar o crescimento. O que eles vão conseguir é uma inflação sem precedentes e uma desvalorização de suas moedas.


Gostamos do ouro como um ativo real que protege os investidores contra a insanidade dos Bancos Centrais. Neste ano, o ouro novamente teve uma boa performance, subindo mais de 10%. Esperamos bons números para 2015.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

FED ontem: mais do mesmo

Como amplamente esperado por todos, o FED removeu ontem a expressão “por um considerável período de tempo” de sua divulgação. Como esperado por nós, ele apareceu com uma nova palavra: paciente. O FED, então, será paciente para elevar as taxas de juros.

Paciência, ao nosso ver, quer dizer até quando o mercado permitir. Se o FED fosse subir a taxa de juros, já o teria feito. Temos que ter em mente que essa suposta recuperação da economia já dura 6 anos, com juros zero, QE e Operação Twist.


Mas tiramos o chapéu para o tanto que eles conseguem “enrolar” o mercado. Mais de 4 anos dizendo que em breve vão elevar as taxas de juros e o mercado ainda acredita. Nisso eles são realmente bons.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Russia to the rescue?

Estamos acompanhando as notícias dos mercados, especialmente as da Rússia. Com a grande desvalorização do Rublo, apesar do aumento da taxa de juros naquele país, vemos a chance de uma grande crise fora do espectro se aproximar.

A crise é causada pelo fortalecimento do dólar, especialmente frente a moedas de mercados emergentes, exportadores de commodities. A Rússia, cuja economia é altamente dependente do petróleo e gás, viu, com a queda de cerca de 40% na commodity nos últimos dois meses, a consolidação de uma crise.

A queda do petróleo, a nosso ver, é a primeira fatalidade decorrente do fim do QE, programa de compra de títulos patrocinado pelo FED. Mais virão, com certeza. Não acreditamos que as economias tenham piorado drasticamente em apenas dois meses e a única coincidência para a queda na commodity foi o final do QE. Vimos dizendo que existe uma bolha mundial em bonds, ações, commodities, etc., causada pela impressão desenfreada de dinheiro no mundo. Não é um movimento de ascensão das economias que causou um aumento de preços nos ativos, e sim os programas de QEs.

A situação na Rússia pode servir com uma boa desculpa para o início do QE4 e o comunicado do FED deve ser divulgado hoje, o qual o mercado espera que seja mais hawkish. Pode ser, mas vemos como praticamente certo mais um round de QE no médio-prazo.

Continuamos recomendando o ouro para o longo-prazo, como o melhor hedge contra a insanidade dos Bancos Centrais.