“Em Miami, Ron Shuffield prevê que uma oferta limitada de
áreas, somada a uma demanda alta dos baby
boomers e de estrangeiros prolongará o boom
no mercado imobiliário indefinidamente”. Essa foi parte de uma reportagem do
The New York Times, em março de 2005. Claro, era também o pensamento de grande
parte da população dos EUA na época, quando se acreditava que os preços dos
imóveis sempre subiriam.
Ao mesmo tempo, o agora Nobel de Economia, Robert Shiller,
avisava sobre uma bolha imobiliária nos EUA.
Aqui no Brasil, de acordo com a FIPE - Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas, o preço médio dos imóveis residenciais subiu 12,7% em
2013, leve desaceleração à alta de 13,7%, registrada em 2012, mas mais um ano
de incremento de preços bastante acima da inflação.
Em meados do ano passado, durante sua passagem pelo
Brasil, Robert Shiller foi muito claro a respeito da existência de uma bolha
imobiliária no país e esse ano, em uma entrevista, disse que se sentia como nos
EUA, em 2005.
Realmente temos observado a explosão desse setor com a
falácia do déficit habitacional, o que impulsionou os retornos aos investidores
e compradores de imóveis. Como eles obtinham retornos cada vez melhores, a
profecia foi se auto-alimentando e crescendo, fazendo com que todos quisessem
participar.
O cenário hoje é bem mais realista para os imóveis, com
grandes construtoras reportando prejuízos seguidos e um número maior de
devoluções de imóveis vendidos.
Começamos a ver placas de “vende-se” por toda a cidade,
embora em números não alarmantes ainda. Mas essa é a primeira dica: primeiro a
liquidez do setor diminui, como aconteceu na Espanha e nos EUA. Logo em
seguida, vem o ajuste de preços.
Claramente não vemos a situação do Brasil como uma bolha
sem proporções. Para começar, os bancos brasileiros são mais cautelosos ao
conceder empréstimos aos futuros proprietários. Enquanto nos EUA era mais fácil
comprar uma residência do que alugar uma - já que os proprietários exigiam uma
documentação mais rígida dos possíveis inquilinos – aqui no Brasil é o contrário.
Também sabemos que o governo apoia o setor, principalmente
o de imóveis para a baixa renda, com os grandes bancos (Banco do Brasil e Caixa
Econômica Federal) financiando os compradores a juros baixos (e inadimplência
alta).
Há alguns anos, os compradores e inquilinos não tinham
vez: ou aceitavam os preços ou perdiam o negócio, já que havia uma fila enorme
de potenciais investidores/inquilinos dispostos a pagar o preço pedido. Estamos
vendo essa balança pender para o outro lado agora, onde os preços dos imóveis à
venda estão baixando e os proprietários de imóveis não estão conseguindo
repassar a alta da inflação aos contratos de aluguel.
Os preços de imóveis no Brasil não estão tão altos quanto
os dos Estados Unidos, em 2005, apesar de um exagero em alguns setores e
cidades brasileiras. A maior parte dos especialistas espera um mercado estável
esse ano, sem grandes mudanças.
Uma boa alternativa aos que gostam de investir em
propriedades é alocar parte do capital em fundos imobiliários, que proporcionam
diversificação. A contratação de gerentes com experiência no setor poupa os
investidores de ter que alugar a propriedade, cuidar dela, tratar com o
síndico, etc.
Não estamos mais recomendando a aquisição de imóveis aos nossos
clientes, coisa que fizemos desde 2005. O momento demanda cautela, simplesmente pela assimetria
dos retornos (retorno menor para um risco maior). Caso o investidor busque uma proteção contra
a inflação com risco baixo, nossa melhor recomendação são os títulos do governo
de curto-prazo indexados ao IPCA.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Economia Americana e o Ouro
Na última sexta-feira foi
publicado mais um número de empregos criados na economia norte-americana. A
média dos analistas estava esperando um número forte para validar a tão aclamada
recuperação econômica. O consenso dos analistas era a da criação de 200mil
empregos, embora alguns analistas mais otimistas tivessem números bem acima dos
apresentados.
Como vem acontecendo com
frequência, os números desapontaram praticamente todos os analistas, com uma
geração de empregos de somente 74mil. E nem podemos olhar a qualidade dos
números apresentados, porque mais da metade deles foram de empregos
temporários.
Continuamos afirmando que não
vimos nenhuma recuperação na economia; como esta pode estar crescendo tendo
gerado menos emprego em 2013 do que em 2012?
A taxa de desemprego vem caindo,
mas isso se deve muito mais às pessoas que saem do mercado de trabalho por
terem desistido de encontrar emprego do que por novas contratações, o que
realmente seria um indício de recuperação.
Como vimos afirmando inúmeras vezes,
o programa do FED de continuar a comprar bônus do governo e os de hipotecas
contribui somente para manter os grandes bancos solventes enquanto tal programa
gera a proliferação de bolhas por todos os lados.
Tal programa é totalmente
ineficiente no que diz respeito à geração de empregos e também moralmente
errado, já que induz à alta dos preços em todos os ativos – imóveis, ações e
produtos em geral. Os mais ricos possuem muitos ativos e, apesar dos preços dos
bens de consumo continuarem subindo, seus ativos sobem muito mais. Já com
relação aos menos ricos, isso se constitui em um alto imposto a se pagar, já
que os mesmos não tem ativos e ainda têm que arcar com altos preços.
Essa a alta dos preços produz uma
falsa sensação de riqueza, a mesma de alguns anos, quando, por exemplo, a
maioria dos americanos supunha que os preços dos imóveis continuariam subindo
para sempre.
Essa atual ilusão de que há uma
recuperação é mantida exclusivamente pelos programas do FED. Quando o FED
começou o tapering no mês passado, já o fez bem à meia-boca, prometendo ao
mercado que os juros ficariam onde estão até pelo menos 2015 e diminuindo o
ritmo de compra de bônus para US$75bilhões ao mês – vale lembrar que o balanço
do FED continua aumentando e aumentando rapidamente, porém um pouco menos que quando
ele estava comprando US$85bilhões por mês (não estamos considerando o
reinvestimento dos juros, porque senão a compra de bônus do FED estaria acima
dos US$90 bilhões ao mês).
O FED sabe bem que não há
recuperação, há somente uma ilusão, mantida por estímulos artificiais à
economia. Se esses estímulos forem retirados, o país voltará à recessão,
pegando muita gente desavisada e causando um problema muito maior do que o em
2008.
Por isso achamos que, se o FED
fizer mais um tapering, esse provavelmente será um tapering modesto como o
anterior, e então ele vai parar, esperando alguma desculpa para poder aumentar
a compra de bônus.
Acreditamos ser mais fácil o FED
aumentar o ritmo de compras de títulos até o final desse ano, do que diminuí-lo.
Ao nosso ver, o FED estará comprando mais do que US$85 bilhões ao mês até o
final desse ano, sem contar o reinvestimento dos juros.
Um risco que achamos que poucas
pessoas estão levando em conta é o da não-recuperação da economia
norte-americana e de um aumento no programa de estímulos à economia desse país
- muito mais porque poucos acreditam que os EUA ainda estão em crise.
Quando nos dermos conta e virmos
que tal recuperação inexiste –o que existe é somente uma alta nos preços dos
ativos devido aos programas do FED - e que o próprio FED não tem a menor
intenção de parar de imprimir dinheiro, vamos ver uma queda no dólar americano.
Tal cenário trará repercussões importantes para a economia mundial que
acreditamos não estarem sendo consideradas.
Acreditamos que o ouro seja um
bom hedge nesse cenário.
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